terça-feira, 28 de junho de 2022

O MERCADOR DE VENEZA E O AUTO DA COMPADECIDA: UMA CÓPIA?

 


A INFLUÊNCIA NA ARTE


Imagem: Wikipedia. Shakespeare.


No século 16, a antiga Europa vivia sob rixas e intolerâncias entre as religiões predominantes. Decerto, os judeus e os cristãos exprimiam as maiores contendas judiciais, se comparadas as demais altercações de integrantes de outras religiões. “O Mercador de Veneza”, do grande poeta e escritor William Shakespeare nos revela quão fabulosa se tornara a escrita dele ao compor tal obra.



Imagem: Wikipedia. Cartaz: O Mercador de Veneza, de 1600


Em 1596, os cristãos e judeus eram separados por indumentárias que os caracterizavam pertencentes as suas religiões específicas, mas havia uma disparidade entre eles: judeus eram obrigados a usarem turbas ou chapéus vermelhos como identificações. Veneza, como a mais poderosa cidade-estado da época, tinha leis que separavam os cristãos, alocando os judeus em guetos, nas periferias da urbe. As portas da cidade eram fechadas e vigiadas pelos cristãos venezianos e os seus rivais religiosos eram obrigados a usarem os trajes rubros se quisessem deixar a cidade com intento de voltar. Em sua obra, William Shakespeare deixa claro ao público a proveniência da narrativa e a desigualdade de tratamentos entre os religiosos: o não direito a propriedade pelos judeus e a prática corriqueira da usura (prática de emprestar dinheiro mediante juros), hoje, chamada de agiotagem, em termos jurídicos.

Como a maioria das obras shakespearianas, a religião é algo manifesto e permeia a escrita do início ao fim. No entanto, o suspense, a lascívia, a traição, a ganância, a morte ou a sua tentativa, o erotismo e demais componentes facilmente encontrados na vida real, também complementam esta magnífica grafia.

Bassanio, amigo fiel de Antônio, um cristão e mercador abastado, apaixona-se por uma das mais belas, ricas e cortejadas mulheres da cidade. Príncipes de todas as regiões partia das suas terras em busca de conquista-la, juntamente com o seu dote, deixado pelo seu falecido pai. Porém existiam condições para que a donzela fosse entregue aos seus pretendentes. Havia três baús: um de ouro, um de prata e outro de chumbo, todos grafados com frases enigmáticas. Dentro deles continham cartas de despedidas, mas só um resguardava a imagem da pretendente; quem a achasse seria o merecedor da bela mulher. O enredo, como um todo, passa-se em torno da busca e do amor conquistado por Bassanio, assim como a promessa de pagar uma dívida a um judeu usureiro que emprestara dinheiro a Antônio em troca de cortar a sua pele, que ele oferecera como garantia caso não pagasse uma dívida de 3 mil Ducados em ajuda ao seu amigo apaixonado.

A fortuna de Antônio se perdera no mar junto aos seus navios naufragados e só lhe restara ser julgado para pagar a dívida ao judeu usureiro. Após os votos de casamento, Bassanio partira para tentar ajudar o seu amigo depois de receber uma carta que solicitava a sua presença antes da morte, dita-se como certa. Em julgamento, a esposa de Bassanio, travestida de homem, passa-se por um requisitado juiz e leva Antônio à condenação. Entretanto, para que o pagamento da dívida fosse efetuado com a pele do devedor ⸺ este que assinara uma promissória sem explicações pormenorizadas ⸺, nenhuma gota de sangue deveria sair do corpo dele, fazendo-o livrar-se da dívida.



Ariano Suassuna. Imagem: Wikipedia


Neste grandioso enredo shakespeariano é impossível não perceber a influência direta ao nosso magnificente romancista e dramaturgo Ariano Suassuna, na sua obra mais famosa: “O Auto da Compadecida”. Ariano usara da mesma artimanha que o autor inglês na sua peça, quando oferecera uma “tira de couro das costas de Chicó”, mas esta tinha que ser cortada sem que saísse um pingo de sangue dele, fazendo com que o Coronel Antônio Moraes os fizesse ir embora com a dívida saldada. As semelhanças entre as duas obras não se restringem a esta parte, porém certamente é a passagem que mais nos chama a atenção e nos faz lembrar do Mercador de Veneza e O Auto da Compadecida como trabalhos análogos.

É sabido que as genialidades dos dois dramaturgos e romancistas são inegáveis, contudo podemos observar que a influência, mesmo sem intencionalidade, está impregnada no mais íntimo de qualquer criador literário.     

 

Por Moisés Calado.

 

 

 

      

segunda-feira, 27 de junho de 2022

UMA BREVE HISTÓRIA SOBRE O SOCIALISMO E O CAPITALISMO




 

PESAMENTOS DE KARL MARX



Na Baixa Idade Média surgiram as verdadeiras característica do capitalismo, não as mesmas que conhecemos hoje, com o arrocho familiar, endividamento carregado e, consequentemente, a miséria assolando todo o mundo impossibilitado de ter acesso as coisas mais básicas ao ser humano: feijão e arroz. No entanto, o capitalismo deixa o seu rastro de morte desde o seu surgimento.

Entre os séculos XI e XV, por causa da mudança do centro de vida econômica, política e social dos feudos para a cidade, surgem as primeiras distinções entre a vida campesina e urbana. Com a crise demográfica causada pela Peste Negra e a fome que afligia, originando a morte de mais de 40% da população europeia, o comércio europeu viu-se forçado a reativar os seus centros apoiados pelas Cruzadas, passando-se pelos séculos XI ao XII. Nesse interim, a Europa passou por um intenso desenvolvimento urbano civilizacional e comercial. Consequentemente as relações de produção capitalistas se multiplicaram e amofinaram as bases do feudalismo. Já na idade média, o absolutismo atrelado ao mercantilismo elevou o poderio político e econômico dos reis. As pessoas que viviam no campo se mudavam para as cidades em busca de empregos e melhores condições de sobrevivência subexistencial, mas os centros urbanos da época não suportavam a abrupta ampliação demográfica. A situação se tornara caótica.

No entorno da Europa do século XIX, os conflitos começaram a se caracterizar pelos embates entre trabalhadores e capitalistas. Ao ler o livro de Friedrich Engels, "A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra", o grande teórico do socialismo científico exemplifica as catástrofes sociais criadas pela Revolução Industrial, que teve como maiores referências ideológicas o liberalismo, passando-nos a terrível ideia do individualismo entre os homens.



“[...] A sociedade europeia, que até então, vinha mantendo seus vínculos feudais tradicionais de coesão e integração, baseados nos laços familiares, religiosos, morais e sentimentais, comuns ao meio rural, de forma abrupta, assistiu ao surgimento de uma organização urbano-industrial sem nenhum tipo de ligação que primasse pelo humanismo [...]”

Marx, karl.

 

A nova revolução industrial e as teorias criadas por Adam Smith, precursor do liberalismo, trouxeram consigo a ideia de “avanço tecnológico e científico”, quando na realidade, os avanços reais foram iniciados pela mão-de-obra trabalhadora e explorada. Os negócios familiares, que se mantinham estáveis foram substituídos por grandes empresas agrupadas em carteis agregadores ou eliminadores. A Europa, como um todo, tornou-se uma sociedade de desempregados, mendigos e trabalhadores sem nenhum vínculo familiar e empregatício. A miséria fora fato agregador à proliferação de mães solteiras, de crianças sem pais e mulheres e homens despreparados, tornando-se presas fáceis aos proprietários de minas de carvão e fábricas concentradoras do capital produzido pelo trabalho de superexploração. Enquanto a burguesia urbana enriquecia pelo espólio colonial, adquirido por invasões às civilizações asiáticas e africanas, a Europa vivia o luxo de deter o poder sobre o mundo menos abastado e via-o como uma simples base de sustentação.

As revoluções de 1848 e a Comuna de Paris de 1871 provocaram uma nova reorganização social. Possivelmente, podemos afirmar que os maiores resultados do conflito entre os trabalhadores e a burguesia exploradora, foi a construção de um Estado de Bem-estar social. Os trabalhadores, logo após terem adquirido direitos civis, políticos e sociais, passaram a escolher os seus representantes por meio do voto, minando o pleno poder da monarquia. Os sindicatos puderam ser criados para garantirem uma renda mínima ao trabalhador e, posteriormente, a sua existência em sociedade.



“[...] As contradições, no entanto, continuaram existindo. As cidade cresciam sem planejamento e não ofereciam as mínimas condições de higiene: acentuava-se as divisões de trabalho entre a burguesia e o proletariado; o Socialismo que deu origem as teorias de Karl Marx, o Anarquismo de Mikhail Bakunin e de outros líderes ganharam adeptos; enquanto as revoltas de trabalhadores se tornaram constantes. A Comuna de Paris (1871) conseguiu, durante setenta dias, promover um radical governo proletário, até a sua violenta dissolução pelas forças conservadoras, que favoreceu ainda mais a euforia burguesa e do capitalismo desumano, que continuaram massacrando o proletariado [...]”

Gomes, morgana.

 

Em análise fria, podemos observar que as misérias do mundo Ocidental e, posteriormente, das demais regiões se deram com a urbanização industrial e a consequente concentração de riquezas nas mãos de grupos seletos. Desde o período Renascentista, o mundo mantinha uma estabilização econômica e social bucólica, com uma manutenção de desenvolvimento retilíneo e contínuo.

 

“A natureza do homem é de tal maneira que, ele não pode atingir a perfeição, senão agindo para o bem e a perfeição da humanidade (sic).”

(Karl Marx).

 

Por Moisés Calado.