Nascido na Filadélfia,
Pensilvânia, filho de um famoso estudioso hebreu, Chomsky é talvez um dos mais
conhecidos pensadores de nosso tempo. Sua obra foi fundamental ao
desenvolvimento da linguística no século XX. Porém, é importante perceber, que
o trabalho de Chomsky neste campo origina-se de um ponto de vista filosófico
com uma longa herança. Ele também é conhecido pelos seus comentários políticos
e sociais, os quais, até certo ponto, são também feitos com as mesmas crenças
filosóficas. Após ser dissuadido a abandonar os seus estudos universitários
pelo renomado professor de linguística, Zellig Harris, Chomsky escreveu a sua
obra “Estruturas Sintáticas”, publicada em 1957, a qual influenciou os estudos
nessa área a partir de sua publicação. Desde aquela época, Chomsky desenvolveu
e modificou seus pontos de vista em muitos trabalhos importantes,
particularmente em seu “Aspecto da Teoria da Sintaxe, Língua e Mente”, e mais
recentemente, “O Programa Minimalista”. De seus muitos escritos políticos, os
mais influentes são: “O poder Americano e os Novos Mandarins”, “Direitos
Humanos e a Nova Política Estrangeira Americana” e “O Triângulo Fatídico: O
Estados Unidos, Israel e os Palestinos”. Chomsky continua a escrever ativamente
sobre linguística e política.
O trabalho de linguística
baseado em uma teoria racionalista da mente, a qual postula em oposição à
tradição empírica originária de Locke ⸺ e que estava em evidência antes do
trabalho de Chomsky ⸺ que a mente do ser humano ao nascer está muito distante
de ser pedra em branco ou tabula rasa, pelo contrário, é condicionada em
suas operações por certas estruturas inatas. A preocupação de Chomsky,
certamente, é com o aprendizado da língua e as “estruturas sintáticas” que
fazem parte de diferentes línguas. Na visão de Chomsky, todas as línguas
compartilham, em um nível fundamental, uma estrutura universal, ou gramática, e
essa gramática universal está instalada em nossos cérebros, em vez de algo que
é aprendido por meio da experiência e do ensinamento.
A noção de uma gramática
universal é relativamente simples. Há algo em torno de 5.000 variedades
conhecidas de língua humana. De acordo com Chomsky, apesar das muitas
diferenças formais entre elas, todas são condicionadas por certos parâmetros e
princípios que são inatos e únicos à mente humana. Um argumento significativo
para esta conclusão é o que alguns chamam de “argumento da produtividade”.
Psicólogos experimentais geralmente confirmarão a velocidade na qual se
desenvolve a habilidade gramatical nas crianças com dois ou três anos de idade,
uma habilidade que vai além da escassa absorção da língua à qual elas têm sido
expostas até o momento.
Consequentemente, seria
plausível supor que a criança tenha uma vantagem inicial. As regras gramaticas
não precisam ser aprendidas, elas já estão instaladas na mente: a exposição à
língua; desde sua tenra idade, meramente aciona o gatilho, e a criança
desenvolve sua competência linguística à uma velocidade acelerada.
Esse processo de instalação é, como outras faculdades cognitivas, um aspecto da nossa natureza humana. Chomsky vê isso como tendo implicações políticas positivas. Em vez de ser uma folha em branco do empirismo de Locke, ou dos agentes do existencialismo, nossa natureza nos previne de sermos subjugados por forças extremas livres e inconstantes. Nossa natureza determina que existam apenas certas estruturas políticas, as quais podemos tolerar. Sistemas políticos opressivos, como os retratados por Orwell em seu livro “1984”, ou por Huxley em seu “Admirável Mundo Novo”, não podem completamente moldar nossa mente. Nossos pensamentos não são, como psicólogos comportamentais do início do Século XX supunham, respostas meramente condicionadas a estímulos repetidos. A ideia de ser um “agente livre” está tão inserida em nossa natureza, quanto os condicionamentos que atuam em nossa forma de discurso.
Imagem: Noam Chomsky por "Acampamento Lula Livre"
Isso revela um
desenvolvimento posterior da teoria linguística de Chomsky. Para ele, a
natureza da mente humana é revelada pela natureza da língua. Não porque a
língua é uma atividade unicamente humana, mas também porque a língua “é o
veículo do pensamento”, e por isso colocada unicamente para iluminar a essência
da mente humana. É importante lembrar que Chomsky vê a mente com princípios e
processos cognitivos que fazem parte do comportamento humano e que Chomsky
firmemente se prende a uma teoria que remonta ao “inatismo” de Leibniz e
outros. De acordo com essa teoria, a mente humana é dotada ⸺ como foi dito ⸺ de
certas propriedades inatas, que determinam como nós somos e o que nós podemos
saber.
“A
LÍNGUA É O VEÍCULO DO PENSAMENTO E, POR ISSO,
UNICAMENTE
COLOCADA PARA
ILUMINAR
A ESSÊNCIA DA MENTE HUMANA”
Chomsky é tão conhecido
agora por seus numerosos escritos políticos, quanto pelo seu trabalho em
linguística. Crítico constante da política estrangeira dos Estados Unidos e do
seu envolvimento no Vietnã, no Camboja e nas guerras do Golfo. Ele é um
partidário ativo de mudanças sociais radicais nos EUA, e continua o seu
trabalho como linguista e filósofo teórico. Ele descreve sua visão política
como “socialista libertária” ⸺ uma mistura de socialismo e anarquismo, assim
por dizer.
Leituras Essenciais:
Estruturas Sintáticas
(1957) e Aspectos da Teoria da Sintaxe, da Língua e da Mente (1965).
Análise, tradução e
transcrição do livro de Philip Stokes: “Os Grandes Pensadores”.
Por Moisés Calado.
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