Mostrando postagens com marcador Literatura. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Literatura. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 10 de março de 2023

A TRAGÉDIA





Imagem: Google. William Shakespeare.
 

Os ingleses, bem como os espanhóis, já possuíam um teatro quando os franceses só tinham tablados. Shakespeare, considerado o Corneille inglês, florescia mais ou menos na época de Lope de Vega; criou o teatro. Tinha um gênio cheio de força e de fecundidade, natural e sublime, sem a menor centelha de bom gosto e sem o menor conhecimento das regras. Vou dizer uma coisa temerária, mas verdadeira: o mérito desse autor perdeu o teatro inglês; há cenas tão belas, trechos tão grandiosos e tão terríveis espalhados em suas farsas monstruosas, chamadas tragédias, que essas peças foram sempre presenteadas com sucesso. O tempo, único responsável pela reputação dos homens, acaba tornando respeitáveis seus defeitos. A maioria das ideias bizarras e gigantescas desse autor adquiriu, depois de duzentos anos, o direito de passar por sublime; quase todos os autores modernos o copiaram, mas o que era êxito em Shakespeare resulta em fracasso nos outros. E podem realmente crer que a veneração dedicada a esse antigo aumenta, à medida que se despreza os modernos. A reflexão deveria mostrar que não se deve imitá-lo e o insucesso desses copistas faz somente com que se creia que é inimitável.

Sabem que na tragédia “Mouro de Veneza”, peça muito tocante, um marido estrangula sua mulher no palco e, quando a pobre mulher está sendo estrangulada, grita que está morrendo injustamente. Não ignoram que, em “Hamlet”, coveiros abrem uma cova bebendo, cantando cantigas populares e contando sobre as cabeças dos mortos que encontram piadas do tipo de gente de seu ofício. Mas o que poderá surpreender é que essas tolices foram imitadas no reinado de Carlos II que era a época da polidez e a idade de ouro das belas-artes. “Otway”, em sua “Veneza Salva”, introduz o senador Antônio e a cortesã Naki no meio dos horrores da conspiração do Marquês Bedmar. O velho senador Antônio realiza junto de sua cortesã todas as macaquices de um velho devasso, impotente e fora do bom senso; imita o touro e o cachorro, morde as pernas de sua amante, que lhe dá pontapés e chicotadas. Essas palhaçadas, feitas para a canalha mais vil, foram retiradas da peça de Otway, mas deixaram em “Júlio César” de Shakespeare os gracejos dos sapateiros e dos consertadores de calçados romanos, introduzidos na cena com Brutus e Cassius. É que a tolice de Otway é moderna e aquela de Shakespeare é antiga.

Sem dúvida vocês lamentam que aqueles que lhes falaram até agora do teatro inglês e sobretudo desse formoso Shakespeare só lhes tenham mostrado os seus erros e que ninguém tenha traduzido qualquer desses trechos tocantes que pedem perdão por todas as suas faltas. Poderia responder-lhes que é muito fácil contar em prosa os erros de um poeta, mas é muito difícil traduzir os seus belos versos. Todos os rabugentos que se erigem em críticos dos escritores célebres compilam volumes; preferiria duas páginas que me desses a conhecer algumas belezas, pois manterei sempre, com as pessoas de bom gosto, que há mais a aproveitar em doze versos de Homero e Virgílio do que em todas as críticas feitas a respeito desses dois grandes homens.

Arrisquei traduzir alguns trechos dos melhores poetas ingleses. Aqui está um de Shakespeare. Perdoem a cópia em favor do original e lembrem-se, quando virem uma tradução, que só veem uma fraca estampa de um belo quadro.

Escolhi o monólogo da tragédia “Hamlet”, conhecida de todos e que começa com este verso:

 

“To be or not to be, that is the question” (“Ser ou não ser, eis a questão”).

É Hamlet, príncipe da Dinamarca, que fala:

 

“Fica. É preciso escolher e passar num instante

Da vida à morte ou do ser ao nada.

Deuses cruéis! Se existem, iluminem minha coragem.

É preciso envelhecer sob a mão que me ultraja,

Suportar ou terminar minha desgraça ou minha sorte?

Quem sou eu? Quem me detém? E o que é a morte?

É o fim dos nossos males, é meu único asilo;

Após longos transportes, é um sono tranquilo.

Dorme-se e tudo morre. Mas um terrível despertar

Deve suceder talvez às doçuras do sono.

Ameaçam-nos, dizem-nos que esta curta vida

De tormentos eternos é logo seguida.

Ó morte! Momento fatal! Terrível eternidade!

Todo coração só a teu nome se enregela, apavorado.

Oh! quem poderia sem ti suportar esta vida,

De nossos padres mentirosos abençoar a hipocrisia,

De uma indigna amante incensar os erros,

Arrastar-se sob um ministro, adorar sua altivez,

E mostrar os langores de uma alma abatida

A amigos ingratos que desviam a vista?

A morte seria demasiado doce nesses extremos;

Mas o escrúpulo fala e nos grita: ‘Parem!’

Proíbe a nossas mãos esse feliz homicídio,

E de um herói guerreiro faz um cristão tímido!”

 

Não acreditem que traduzi o inglês palavra por palavra ao pé da letra; infelizes os que fazem traduções literais, porque, ao traduzir cada palavra, enervam o sentido. É precisamente nesse momento que se pode dizer que a letra mata e o espírito vivifica!



Voltaire ⸺ Cartas Filosóficas.

 

Texto e interpretação por Moisés Calado.

 

Por Moisés Calado.  


segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

HIPÁTIA: A PRIMEIRA MATEMÁTICA DA HISTÓRIA

 

Imagem: Revista Superinteressante


Geralmente, as grandes personalidades da biografia humana vêm sob a imagem masculina diligenciando a conjuntura histórica aos olhos patriarcais. São raros os momentos que nos deparamos com matérias grafadas em grandes veículos de comunicação, enfatizando o papel das mais importantes mulheres que passaram por esta vida, assim como os seus preciosos trabalhos deixados para a posteriori serem estudados. Hipátia de Alexandria, fora uma delas.

Também conhecida como Hipácia ou Hypatia, a estudiosa nascera em Alexandria, no Egito do Século IV d.C, no ano de 355, aproximadamente. Filha de Theon (também matemático, astrônomo e filósofo), Hipátia é conhecida como a primeira matemática da História. No entanto, as suas contribuições não se restringem apenas a este campo de estudo. A acadêmica era uma grande estudiosa das esferas filosóficas platônicas e astronômicas, e chegou a dar aulas na sua cidade natal atendendo aos domínios então citados.

Hipátia estudou na Academia de Alexandria e em uma escola neoplatônica de Atenas, na Grécia. Posteriormente, ao concluir os seus estudos acadêmicos, ela se tornara diretora da Academia de Alexandria, porém, sempre lecionando. Antes de Galileu ou dos grandes astrônomos conjeturar sobre a forma esférica e o movimento de Rotação e Translação perfeitos pela Terra em torno de si mesma e do Sol, a estudiosa já elaborava teses sobre tais movimentos cosmológicos. Seus alunos relataram que o Movimento Elíptico do nosso planeta em volta da nossa estrela, fora descoberto por ela momentos antes de Alexandria ser invadida por cristãos e judeus, que destruíram a maior fonte de conhecimento do mundo antigo: a Biblioteca de Alexandria. Pouco se sabe sobre as descobertas de Hipátia por não haver registros após a destruição da Biblioteca. Assim, os conhecimentos foram transferidos pelos seus alunos mais assíduos.

A mente irrequieta da astrônoma fez com que ela criasse o astrolábio e o hidroscópio, os quais usava com frequência em suas aulas na Academia. Apesar de não atuar na área, Hipátia produziu trabalhos sobre medicina. Chegou a aperfeiçoar a aritmética de Diofanto de Alexandria e escreveu 13 obras comentadas ⸺ juntamente com o seu pai Theon ⸺, que falam sobre os Elementos de Euclides, o grande mestre grego.


Imagem: BBC News Brasil


Infelizmente, especula-se que a pensadora tenha sido morta por fanáticos religiosos após resguardar o raciocínio lógico defendido pelos antigos gregos. Pouco se sabe sobre como ela morrera, mas há quase um consenso que fora assassinada brutalmente em meio à rua, espancada e apedrejada, entre 415 e 416 d.C. 



Por Moisés Calado.






quinta-feira, 18 de agosto de 2022

CONHEÇA NOAM CHOMSKY, O MAIOR INTELECTUAL VIVO E AMIGO ÍNTIMO DE LULA

 

Imagem: CUT. Lula e Noam Chomsky


Nascido na Filadélfia, Pensilvânia, filho de um famoso estudioso hebreu, Chomsky é talvez um dos mais conhecidos pensadores de nosso tempo. Sua obra foi fundamental ao desenvolvimento da linguística no século XX. Porém, é importante perceber, que o trabalho de Chomsky neste campo origina-se de um ponto de vista filosófico com uma longa herança. Ele também é conhecido pelos seus comentários políticos e sociais, os quais, até certo ponto, são também feitos com as mesmas crenças filosóficas. Após ser dissuadido a abandonar os seus estudos universitários pelo renomado professor de linguística, Zellig Harris, Chomsky escreveu a sua obra “Estruturas Sintáticas”, publicada em 1957, a qual influenciou os estudos nessa área a partir de sua publicação. Desde aquela época, Chomsky desenvolveu e modificou seus pontos de vista em muitos trabalhos importantes, particularmente em seu “Aspecto da Teoria da Sintaxe, Língua e Mente”, e mais recentemente, “O Programa Minimalista”. De seus muitos escritos políticos, os mais influentes são: “O poder Americano e os Novos Mandarins”, “Direitos Humanos e a Nova Política Estrangeira Americana” e “O Triângulo Fatídico: O Estados Unidos, Israel e os Palestinos”. Chomsky continua a escrever ativamente sobre linguística e política.


Imagem: arquivo pessoal. Noam Chomsky em defesa de Lula


O trabalho de linguística baseado em uma teoria racionalista da mente, a qual postula em oposição à tradição empírica originária de Locke ⸺ e que estava em evidência antes do trabalho de Chomsky ⸺ que a mente do ser humano ao nascer está muito distante de ser pedra em branco ou tabula rasa, pelo contrário, é condicionada em suas operações por certas estruturas inatas. A preocupação de Chomsky, certamente, é com o aprendizado da língua e as “estruturas sintáticas” que fazem parte de diferentes línguas. Na visão de Chomsky, todas as línguas compartilham, em um nível fundamental, uma estrutura universal, ou gramática, e essa gramática universal está instalada em nossos cérebros, em vez de algo que é aprendido por meio da experiência e do ensinamento.

A noção de uma gramática universal é relativamente simples. Há algo em torno de 5.000 variedades conhecidas de língua humana. De acordo com Chomsky, apesar das muitas diferenças formais entre elas, todas são condicionadas por certos parâmetros e princípios que são inatos e únicos à mente humana. Um argumento significativo para esta conclusão é o que alguns chamam de “argumento da produtividade”. Psicólogos experimentais geralmente confirmarão a velocidade na qual se desenvolve a habilidade gramatical nas crianças com dois ou três anos de idade, uma habilidade que vai além da escassa absorção da língua à qual elas têm sido expostas até o momento.

Consequentemente, seria plausível supor que a criança tenha uma vantagem inicial. As regras gramaticas não precisam ser aprendidas, elas já estão instaladas na mente: a exposição à língua; desde sua tenra idade, meramente aciona o gatilho, e a criança desenvolve sua competência linguística à uma velocidade acelerada.

Esse processo de instalação é, como outras faculdades cognitivas, um aspecto da nossa natureza humana. Chomsky vê isso como tendo implicações políticas positivas. Em vez de ser uma folha em branco do empirismo de Locke, ou dos agentes do existencialismo, nossa natureza nos previne de sermos subjugados por forças extremas livres e inconstantes. Nossa natureza determina que existam apenas certas estruturas políticas, as quais podemos tolerar. Sistemas políticos opressivos, como os retratados por Orwell em seu livro “1984”, ou por Huxley em seu “Admirável Mundo Novo”, não podem completamente moldar nossa mente. Nossos pensamentos não são, como psicólogos comportamentais do início do Século XX supunham, respostas meramente condicionadas a estímulos repetidos. A ideia de ser um “agente livre” está tão inserida em nossa natureza, quanto os condicionamentos que atuam em nossa forma de discurso.




Imagem: Noam Chomsky por "Acampamento Lula Livre"


Isso revela um desenvolvimento posterior da teoria linguística de Chomsky. Para ele, a natureza da mente humana é revelada pela natureza da língua. Não porque a língua é uma atividade unicamente humana, mas também porque a língua “é o veículo do pensamento”, e por isso colocada unicamente para iluminar a essência da mente humana. É importante lembrar que Chomsky vê a mente com princípios e processos cognitivos que fazem parte do comportamento humano e que Chomsky firmemente se prende a uma teoria que remonta ao “inatismo” de Leibniz e outros. De acordo com essa teoria, a mente humana é dotada ⸺ como foi dito ⸺ de certas propriedades inatas, que determinam como nós somos e o que nós podemos saber.

 

“A LÍNGUA É O VEÍCULO DO PENSAMENTO E, POR ISSO,

UNICAMENTE COLOCADA PARA

ILUMINAR A ESSÊNCIA DA MENTE HUMANA”

 

Chomsky é tão conhecido agora por seus numerosos escritos políticos, quanto pelo seu trabalho em linguística. Crítico constante da política estrangeira dos Estados Unidos e do seu envolvimento no Vietnã, no Camboja e nas guerras do Golfo. Ele é um partidário ativo de mudanças sociais radicais nos EUA, e continua o seu trabalho como linguista e filósofo teórico. Ele descreve sua visão política como “socialista libertária” ⸺ uma mistura de socialismo e anarquismo, assim por dizer.

 

Leituras Essenciais:

Estruturas Sintáticas (1957) e Aspectos da Teoria da Sintaxe, da Língua e da Mente (1965).

 

Análise, tradução e transcrição do livro de Philip Stokes: “Os Grandes Pensadores”.

 

Por Moisés Calado.

terça-feira, 9 de agosto de 2022

SÃO TOMÁS DE AQUINO, O FILÓSOFO DA IGREJA CATÓLICA

 



O filósofo favorito da Igreja Católica, Santo Tomás de Aquino é lembrado principalmente por ter conciliado a filosofia de Aristóteles com a doutrina cristã. Nascido ao norte da Sicília, foi primeiramente educado na cidade de Nápoles e mais tarde em Colônia, proferindo palestras em Paris e Nápoles. São Tomás de Aquino foi canonizado em 1323 pelo Papa João XII.

Enquanto muito de seu trabalho fosse de origem aristotélica, a expansão das ideias de Aristóteles também foi-lhe atribuída, por fazer muitas contribuições originais ao pensamento aristotélico, deixando-o entre os maiores colaboradores da filosofia ocidental cristã. Entre muitas de suas conquistas está o principal trabalho chamado “Os Cinco Caminhos”, ou provas da existência de Deus de sua suma teológica. “Os Cinco Caminhos” são a tentativa mais clara de provar existência de Deus através de argumentos lógicos.

No primeiro dos cinco Caminhos, São Tomás de Aquino diz que a existência de Deus pode ser provada ao considerar o conceito de mudança. Claramente podemos ver que algumas coisas no mundo estão em processo de mudança, e esta mudança tem que ser o resultado de alguma coisa a mais, uma vez que algo não se pode mudar sozinho. Mas a causa da mudança em si, uma vez que no processo de mudança tem que ser causado por outro fator, e assim por diante, infinitamente. Evidentemente, tem que haver alguma coisa a qual seja a causa de todas as mudanças, mas que seja imutável. Pois como São Tomás de Aquino diz: “Se a mão não move o bastão, o bastão não moverá nada sozinho”. O agente primeiro do movimento, ele conclui, é Deus.

 

“SE A MÃO NÃO MOVE O BASTÃO,

O BASTÃO NÃO MOVERÁ NADA SOZINHO”

 

No segundo caminho, argumentando de maneira similar ao primeiro, Aquino observa que as causas sempre operam em série, mas tem que haver uma primeira causa das séries, ou então nada poderia, de forma alguma, existir uma série.  Interessante disso é que, o primeiro e segundo Caminhos, afirmam que uma coisa não pode causar a si própria. Porém, essa é exatamente a sua conclusão: há algo que causa a si próprio chamado Deus. Os filósofos têm criticado essa forma de argumento dizendo ser confusa, desde que o tema a ser provado na conclusão é o mesmo tema negado no argumento.


Imagem: Apoteose. FASBAM


No terceiro Caminho, nota-se que as coisas no mundo vêm a ser e depois deixam de ser. Mas claramente nem tudo pode ser assim, pois se fosse, haveria um tempo onde nada existiria. Porém, se fosse verdade, então nada poderia jamais vir a existir, uma vez que algo não pode surgir do nada. Consequentemente, alguma coisa sempre existiu, e isto é o que as pessoas entendem como Deus. O primeiro, segundo e terceiro Caminhos de São Tomás de Aquino, são geralmente chamados de Argumento Ontológico ligados as análises de Santo Anselmo, O Doutor da Igreja. Em sua versão, nota-se que algumas coisas exibem níveis variáveis de qualidade. Algo pode ser mais ou menos quente, mais ou menos bom, mais ou menos nobre. Tais variações de qualidade são causadas por algo que contém a maioria ou a perfeita quantidade desta qualidade. Da mesma forma que o sol é a coisa mais quente e assim ser a causa de todas as outras coisas serem quentes, então deve haver uma “bondade” completa a qual faz todas as outras coisas serem boas. É claro que, esta que é a melhor dentre as outras, é Deus.

Finalmente, no quinto Caminho, ele se baseia na noção aristotélica de “telos”, finalidade. Todas as coisas se direcionam para o mesmo objetivo ou fim. Mas se guiado por uma finalidade ou objetivo, implica em uma mente que direciona ou pretende tal finalidade. Este que direciona é, mais uma vez, Deus. Versões dos argumentos Cosmológico e Ontológico de São Tomás de Aquino ainda são aceitas pelo Igreja Católica de hoje, embora os filósofos modernos tenham rejeitado quase que unanimamente “Os Cinco Caminhos” de São Tomás de Aquino.

 

 

Leituras essenciais:

Suma Contra os Gentios (1259-1264): Este é o trabalho mais importante de São Tomás de Aquino, e tem o objetivo de estabelecer, através de argumentos filosóficos, a verdade da religião cristã, provando a existência de Deus e discutindo a Sua natureza, a criação e a Sua finalidade, a alma, a ética,  pecado e a Santíssima Trindade.

Suma Teológica (1266-1273): É um trabalho imenso, nada semelhante a um sumário, na acepção da palavra. A primeira parte discute sobre Deus, a criação e a natureza humana; a segunda parte lida com a moral, e a terceira parte discute sobre Cristo e os sacramentos. São Tomás de Aquino deixou incompleta a terceira parte, pois certo dia teve uma visão mística, através da qual ele disse que tudo o que havia escrito parecia irrelevante.

 


Análise e transcrição do Livro de Philip Stokes: Filosofia ⸺ Os Grandes Pensadores.

 

Por Moisés Calado.


quarta-feira, 13 de julho de 2022

CONHEÇA SIMONE DE BEAUVOIR, UMA DAS PRECURSORAS DO FEMINISMO

 

Foto: Vermelho.org


A literatura e a filosofia, hoje não seriam as mesmas sem a grande contribuição da filósofa e romancista francesa Simone de Beauvoir. Como uma das precursoras do novo movimento feminista moderno, influenciou significativamente até as visões posteriores de Sartre. Beauvoir tornou-se, premeditadamente ou não, a heroína das feministas por todo o mundo. Seus trabalhos filosóficos mais significativos são: “A Ética da Ambiguidade” e a bíblia do feminismo, “O Segundo Sexo”. Ambos são excelentes trabalhos, cuja importância filosófica tem sido negligenciada por causa da determinação de alguns em restringir o trabalho de Beauvoir dentro do movimento feminista. Nas palavras de Brendan Gill, no The New Yorker, de 1953, O Segundo Sexo “é uma obra de arte, com o tempero do atrevimento que dá gosto à arte”.

O pensamento de Beauvoir é o desenvolvimento de temas existencialistas encontrados em Sartre. Em particular, sua mais famosa expressão: “Não se nasce mulher, torna-se mulher”, só pode ser compreendida no background “má fé”, de Sartre.

De acordo com Sartre, a liberdade de escolha é uma condição sempre presente na vida humana. Porém, por causa do enorme peso da responsabilidade que isso traz, nós somos aptos a dar desculpas, a negar nossa liberdade de escolha. Tais desculpas podem envolver o ato de culpar o tipo de pessoa que somos na nossa natureza humana. Mas Sartre diz que covardes e heróis não nascem, eles são forjados na ação. Nós somos o que nós fazemos. Assim, cada um que age heroicamente é um herói, e cada um que age covardemente, é um covarde. Mas, tem-se sempre a escolha de agir diferentemente na próxima vez. Não há a premissa de que a natureza determina o modo como nós devemos agir. A negação desta liberdade radical é um tipo de auto-decepção, ou “má fé”, como Sartre a chama.

 

Influenciada pelas primeiras feministas como Mary Wollstonecraft, Simone de Beauvoir se tornou figura chave para o movimento feminista do século XX.

 

Seguindo o pensamento de Sartre, Simone de Beauvoir aceita que um indivíduo nasce livre, sem essência. Mas a identificação de gênero biológico de uma pessoa serve, no caso da mulher, para definir sua personalidade. A mulher torna-se “mulher”, e o significado disso é definido pela cultura e sociedade, ou como “a deusa do lar” (mãe e esposa dos anos 1950) ou mais recentemente, a “Supermãe” dos anos 1990. Mesmo fatos biológicos como a menstruação são sempre culturalmente interpretados, diz Beauvoir, como ou uma “praga vergonhosa, ou uma reafirmação da saúde do corpo, de acordo com os conceitos da sociedade”. Consequentemente, não se nasce mulher. A mulher se torna por aceitar e viver o papel que a sociedade define como apropriado. Esta aceitação, porém, não é automaticamente “má fé”, como Sartre diria, e é crucial ver como Beauvoir expande e desenvolve este conceito.

Simone de Beauvoir insiste que agir de “má fé” pressupõe que esteja consciente do potencial à liberdade em uma situação, que alguém pode ignorar. As crianças, por exemplo, não podem agir com “má fé” porque outros definem o ser deles, desde que a criança viva no mundo de seus pais ou tutor. Somente quando elas atingem um “despertar” na adolescência, a angústia existencialista se estabelece. Similarmente, argumenta Beauvoir, as mulheres, historicamente, têm seu ser definido pelas circunstâncias sócio-econômicas. Consequentemente, são ignorantes quanto ao potencial para a liberdade nessa situação, e, por isso, não podem agir com “má fé”.

É fácil ver quantas das muitas ideias feministas de Beauvoir – de que as mulheres devem reconhecer a própria liberdade, definir seu próprio ser, e libertar-se da escravidão de uma sociedade cujas regras e valores são definidos pelos homens – podem ser retomadas como um grito de guerra pelo movimento de libertação da mulher.

 

“NÃO SE NASCE MULHER,

TORNA-SE MULHER”

 

 

Leituras essenciais para a compreensão de Simone de Beauvoir: “Ética da Ambiguidade” (1947). “O Segundo Sexo” (1949).

 

 

Por Moisés Calado.







quarta-feira, 6 de julho de 2022

SANTO ANSELMO, DOUTOR DA IGREJA: A FILOSOFIA NA IGREJA CATÓLICA

 

Imagem: ACI Digital


Santo Anselmo, nascido em Aosta, na Burgandia, no ano 1033, foi uma criança religiosa e buscou ingresso na vida monástica aos 15 anos. O abade local, entretanto, o recusou apesar da insistência de seu pai. Após a morte da sua mãe, Anselmo partiu em viagem. Finalmente ele chegou à Abadia de Bec e começou a estudar com o renomado Prior Lanfranc. Ordenou-se em 1060. Três anos mais tarde, quando Lanfranc foi indicado para ser Abade em Caen, o jovem Anselmo o sucedeu como Prior para o pesar dos mais velhos e estabelecidos candidatos ao posto. Durante os próximos trinta anos ele escreveu os seus trabalhos filosóficos e teológicos e foi indicado a Abade de Bec.


Imagem da Abadia de Bec, onde Santo Anselmo Trabalhou. Wikipedia


Hoje relembrado como o pai da tradição Escolástica e Arcebispo de Canterbury de 1093 até a sua morte, Anselmo é de interesse filosófico principalmente por causa da lógica dos seus argumentos em dois de seus principais trabalhos, O Monologion (“Solilóquio”) e o Proslogion (Discurso), os quais suscitaram várias discussões que pretendiam provar a existência de Deus. Por volta do século XII, os trabalhos de Platão e Aristóteles tinham sido redescobertos e reinterpretados pelos escolásticos, que tentaram sintetizar as ideias dos antigos gregos com a teologia medieval. Seguindo a tradição grega, diz-se que os alunos de Anselmo tiveram a preocupação de ouvir uma justificativa racional para a existência de Deus que não se baseasse meramente na aceitação dos ensinamentos das escrituras ou doutrinários. A resposta mais famosa de Anselmo para este desafio foi conhecida como “a discussão ontológica para a existência de Deus” a qual alguns consideram o debate mais acalorado na história da filosofia.

 

"DEUS EXISTE PORQUE O

CONCEITO DE DEUS EXISTE"

 

Anselmo nos leva a considerar que, ao dizermos o termo “Deus” significa que não se pode pensar em nada maior do que isto. Sendo assim, até mesmo o incrédulo ou, como Anselmo diz, o “tolo”, aceita que isto é o que o conceito de Deus abrange, a existência de Deus pareceria vir necessariamente da definição. Por causa disto, seria uma contradição supor que Deus, por um lado, seja algo que não se pode pensar em nada maior do que Ele e por outro lado não vir a existir. O pensamento de que Deus não exista é menos importante do que o pensamento de que Ele exista, e desde que se possa claramente pensar em Deus e supor que Ele exista, então pensar em algo que não possa ser maior do que isto já admite sua existência.

A discussão ontológica de Anselmo é engenhosa em sua simplicidade. Em enquanto muitas pessoas concordam que há alguma coisa duvidosa sobre isto, a opinião tem sido dividida sobre qual o problema da discussão. O primeiro crítico de Anselmo foi um monge contemporâneo beneditino chamado Gaulino de Marmoutiers. Gaulino argumentava que se o raciocínio de Anselmo estivesse correto, então se podia imaginar uma ilha perdida que fosse a mais perfeita ilha. Desde que por definição a ilha seja a mais perfeita ela tem que existir, pois pelo raciocínio de Anselmo seria menos do que perfeita se não existisse. Assim, pleiteou Gaulino, o raciocínio de Anselmo permite a existência de toda sorte de objetos imaginários sendo assim imperfeitos. Em resposta, Anselmo alegou que a qualidade da perfeição é um atributo que se aplica somente a Deus, e consequentemente sua discussão ontológica, não poderia ser usada para provar a existência de ilhas imaginárias ou o que quer que fosse.

 

"A QUALIDADE DA PERFEIÇÃO É UM

 ATRIBUTO QUE SE APLICA SOMENTE A DEUS"

 

Versões dos argumentos ontológicos de Anselmo foram mais tarde usadas por São Thomás de Aquino e René Descartes e foram, mais tarde ainda, duramente criticadas por Immanuel Kant. O princípio da ressalva de Kant era de que o conceito de Deus como um ser perfeito não necessariamente implica na existência de Deus, na medida em que a “existência” não é uma perfeição. O conceito de um ser perfeito existente não é maior ou menor que o conceito de um ser perfeito não existente. Filósofos concordam que o problema com a discussão de Anselmo gira em torno do fato de que nós certamente não podemos averiguar se alguma coisa existe ou não meramente por analisar o significado de uma palavra ou conceito. Porém, qual erro lógico tem sido cometido ao tentar proceder dessa forma, tem sido exatamente a causa de tantas discussões entre filósofos e especialistas em lógica.

O debate foi retomado novamente em épocas mais recentes, nos anos 60, quando o filósofo Norman Malcom reviveu uma variante menos conhecida do argumento de Anselmo, a qual deixa de lado as objeções feitas por Kant e outros. De acordo com Malcom, Anselmo argumentou no Proslogion que se é possível a existência de tal ser, então ele tem que existir, pois seria uma contradição dizer que tal ser não exista. Deus somente poderia deixar de existir se o conceito de Deus fosse em si contraditório ou sem sentido, e isto, declara Malcom, permanece para ser mostrado pelos oponentes do argumento ontológico.

Santo Anselmo escreveu muitos livros religiosos, incluindo “Cur Deus Homo” (“Por que Deus se tornou Homem?”), mas atualmente ele é mais conhecido pelos seus dois trabalhos filosóficos: “Monologion” e “Proslogion”, nos quais ele tenta provar a existência de Deus.


Livro ontológico “Monologion” de 1076: O conceito de bondade não seria possível se não houvesse um padrão absoluto, algum ideal de bondade, do qual todas as outras “bondades” fossem um reflexo. Este ideal de bondade é Deus.



Crédito da imagem: Estante Virtual.



Livro “Proslogion” de 1077 a 1078: Se nós podemos conceber a ideia de perfeição, mas existente apenas em nossas mentes, então essa ideia é menos perfeita. Porém, se podemos conceber a ideia de perfeição ⸺ então perfeição, ou Deus, tem que existir.



 Crédito da imagem: editora Concreta. Amazon.




Análise e visão do livro de Philip Stokes: “Filosofia ⸺ Os Grandes pensadores”.


Por Moisés Calado.  

 

 

 

 

 

 

 

 

terça-feira, 5 de julho de 2022

A INGRATIDÃO É A FERRUGEM NA ALMA DO INGRATO




 Manuscrito subjetivo.


Imagem: Arquivo pessoal

Nos tempos hodiernos, é relativamente simples encontramos alguém ingrato; pessoas que nem a mais digna e louvável das ações a elas consagradas, irão fazê-las apreciarem o que lhes foram concedidos. Assim, é sensato e faz bem à alma, considerarmos nossas próprias atitudes em relação ao próximo, visto que, o que fazemos de bom nos torna benemérito de retornos elogiáveis, pois o bem, por si só é uma virtude e enaltece qualquer ser que o pratica. Ao contrário da ingratidão, que não permite ao indivíduo reconhecer quaisquer que sejam os bens que lhes foram atribuídos, pois a desvirtuosa esterilidade o cega.

Como analisamos uma pessoa ingrata? Como percebê-la? Não é fácil obter uma percepção inicial, porque muitas pessoas se revestem com a felicidade no momento em que lhes são conferidas algumas honras e isto as torna obscuras, quando são avaliadas. Porém, essas criaturas logo se despem do negrume que as encobre e o seu caráter efêmero, evidencia-se, seja por um pequeno favor que você precise ou pela mera exposição da falta de qualidade moral, delas. Em seus interiores, o que mais as agrada são os falsos atributos e sentimentos de gratidão que elas próprias desconhecem, mas imaginam conterem por causa da sua acentuada vaidade.

Pessoas ingratas são aquelas de estado, característica ou qualidade de seres que não conseguem alcançar os devidos resultados em suas vidas e apresentam-se de maneira custosa para com seu semelhante. Este sentimento (se é que podemos assim defini-lo) assemelha-se muito com a inveja, o olho gordo; e, infeliz é, este que se apresenta de tal forma. O ser que se expõe perante outro com arrogância e desprezo, por ele mesmo é desvalido e consumido por sua própria soberba. Atenta-te aos olhos gordos que te circundam, pois deles, sairão o enfado do teu corpo. Veste-te pelas mais belas sedas que estão à tua volta e afasta-te do que te traz negatividade. Ama ao próximo sem esquecer de sempre agradecer, por mais singelo que seja o ato de fazer. A dádiva está em reconhecer. A virtude aleita-se na compreensão da ação. O que praticamos em vida, levamos pela eternidade, então faça o bem e promova o amor sem distinção. Alegra-te com a felicidade do outro, pois desta forma irás demonstrar que realmente és amigo; és irmão. Seja grato, por mais simples que seja uma homenagem ou atitude de alguém a ti, pois são poucas as pessoas que te presentearão com qualquer atitude laudável. Faz-te humilde e regracie, porque a ingratidão é a ferrugem na alma do ingrato, ela o consome lentamente.


Por Moisés Calado.

terça-feira, 28 de junho de 2022

O MERCADOR DE VENEZA E O AUTO DA COMPADECIDA: UMA CÓPIA?

 


A INFLUÊNCIA NA ARTE


Imagem: Wikipedia. Shakespeare.


No século 16, a antiga Europa vivia sob rixas e intolerâncias entre as religiões predominantes. Decerto, os judeus e os cristãos exprimiam as maiores contendas judiciais, se comparadas as demais altercações de integrantes de outras religiões. “O Mercador de Veneza”, do grande poeta e escritor William Shakespeare nos revela quão fabulosa se tornara a escrita dele ao compor tal obra.



Imagem: Wikipedia. Cartaz: O Mercador de Veneza, de 1600


Em 1596, os cristãos e judeus eram separados por indumentárias que os caracterizavam pertencentes as suas religiões específicas, mas havia uma disparidade entre eles: judeus eram obrigados a usarem turbas ou chapéus vermelhos como identificações. Veneza, como a mais poderosa cidade-estado da época, tinha leis que separavam os cristãos, alocando os judeus em guetos, nas periferias da urbe. As portas da cidade eram fechadas e vigiadas pelos cristãos venezianos e os seus rivais religiosos eram obrigados a usarem os trajes rubros se quisessem deixar a cidade com intento de voltar. Em sua obra, William Shakespeare deixa claro ao público a proveniência da narrativa e a desigualdade de tratamentos entre os religiosos: o não direito a propriedade pelos judeus e a prática corriqueira da usura (prática de emprestar dinheiro mediante juros), hoje, chamada de agiotagem, em termos jurídicos.

Como a maioria das obras shakespearianas, a religião é algo manifesto e permeia a escrita do início ao fim. No entanto, o suspense, a lascívia, a traição, a ganância, a morte ou a sua tentativa, o erotismo e demais componentes facilmente encontrados na vida real, também complementam esta magnífica grafia.

Bassanio, amigo fiel de Antônio, um cristão e mercador abastado, apaixona-se por uma das mais belas, ricas e cortejadas mulheres da cidade. Príncipes de todas as regiões partia das suas terras em busca de conquista-la, juntamente com o seu dote, deixado pelo seu falecido pai. Porém existiam condições para que a donzela fosse entregue aos seus pretendentes. Havia três baús: um de ouro, um de prata e outro de chumbo, todos grafados com frases enigmáticas. Dentro deles continham cartas de despedidas, mas só um resguardava a imagem da pretendente; quem a achasse seria o merecedor da bela mulher. O enredo, como um todo, passa-se em torno da busca e do amor conquistado por Bassanio, assim como a promessa de pagar uma dívida a um judeu usureiro que emprestara dinheiro a Antônio em troca de cortar a sua pele, que ele oferecera como garantia caso não pagasse uma dívida de 3 mil Ducados em ajuda ao seu amigo apaixonado.

A fortuna de Antônio se perdera no mar junto aos seus navios naufragados e só lhe restara ser julgado para pagar a dívida ao judeu usureiro. Após os votos de casamento, Bassanio partira para tentar ajudar o seu amigo depois de receber uma carta que solicitava a sua presença antes da morte, dita-se como certa. Em julgamento, a esposa de Bassanio, travestida de homem, passa-se por um requisitado juiz e leva Antônio à condenação. Entretanto, para que o pagamento da dívida fosse efetuado com a pele do devedor ⸺ este que assinara uma promissória sem explicações pormenorizadas ⸺, nenhuma gota de sangue deveria sair do corpo dele, fazendo-o livrar-se da dívida.



Ariano Suassuna. Imagem: Wikipedia


Neste grandioso enredo shakespeariano é impossível não perceber a influência direta ao nosso magnificente romancista e dramaturgo Ariano Suassuna, na sua obra mais famosa: “O Auto da Compadecida”. Ariano usara da mesma artimanha que o autor inglês na sua peça, quando oferecera uma “tira de couro das costas de Chicó”, mas esta tinha que ser cortada sem que saísse um pingo de sangue dele, fazendo com que o Coronel Antônio Moraes os fizesse ir embora com a dívida saldada. As semelhanças entre as duas obras não se restringem a esta parte, porém certamente é a passagem que mais nos chama a atenção e nos faz lembrar do Mercador de Veneza e O Auto da Compadecida como trabalhos análogos.

É sabido que as genialidades dos dois dramaturgos e romancistas são inegáveis, contudo podemos observar que a influência, mesmo sem intencionalidade, está impregnada no mais íntimo de qualquer criador literário.     

 

Por Moisés Calado.

 

 

 

      

segunda-feira, 27 de junho de 2022

UMA BREVE HISTÓRIA SOBRE O SOCIALISMO E O CAPITALISMO




 

PESAMENTOS DE KARL MARX



Na Baixa Idade Média surgiram as verdadeiras característica do capitalismo, não as mesmas que conhecemos hoje, com o arrocho familiar, endividamento carregado e, consequentemente, a miséria assolando todo o mundo impossibilitado de ter acesso as coisas mais básicas ao ser humano: feijão e arroz. No entanto, o capitalismo deixa o seu rastro de morte desde o seu surgimento.

Entre os séculos XI e XV, por causa da mudança do centro de vida econômica, política e social dos feudos para a cidade, surgem as primeiras distinções entre a vida campesina e urbana. Com a crise demográfica causada pela Peste Negra e a fome que afligia, originando a morte de mais de 40% da população europeia, o comércio europeu viu-se forçado a reativar os seus centros apoiados pelas Cruzadas, passando-se pelos séculos XI ao XII. Nesse interim, a Europa passou por um intenso desenvolvimento urbano civilizacional e comercial. Consequentemente as relações de produção capitalistas se multiplicaram e amofinaram as bases do feudalismo. Já na idade média, o absolutismo atrelado ao mercantilismo elevou o poderio político e econômico dos reis. As pessoas que viviam no campo se mudavam para as cidades em busca de empregos e melhores condições de sobrevivência subexistencial, mas os centros urbanos da época não suportavam a abrupta ampliação demográfica. A situação se tornara caótica.

No entorno da Europa do século XIX, os conflitos começaram a se caracterizar pelos embates entre trabalhadores e capitalistas. Ao ler o livro de Friedrich Engels, "A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra", o grande teórico do socialismo científico exemplifica as catástrofes sociais criadas pela Revolução Industrial, que teve como maiores referências ideológicas o liberalismo, passando-nos a terrível ideia do individualismo entre os homens.



“[...] A sociedade europeia, que até então, vinha mantendo seus vínculos feudais tradicionais de coesão e integração, baseados nos laços familiares, religiosos, morais e sentimentais, comuns ao meio rural, de forma abrupta, assistiu ao surgimento de uma organização urbano-industrial sem nenhum tipo de ligação que primasse pelo humanismo [...]”

Marx, karl.

 

A nova revolução industrial e as teorias criadas por Adam Smith, precursor do liberalismo, trouxeram consigo a ideia de “avanço tecnológico e científico”, quando na realidade, os avanços reais foram iniciados pela mão-de-obra trabalhadora e explorada. Os negócios familiares, que se mantinham estáveis foram substituídos por grandes empresas agrupadas em carteis agregadores ou eliminadores. A Europa, como um todo, tornou-se uma sociedade de desempregados, mendigos e trabalhadores sem nenhum vínculo familiar e empregatício. A miséria fora fato agregador à proliferação de mães solteiras, de crianças sem pais e mulheres e homens despreparados, tornando-se presas fáceis aos proprietários de minas de carvão e fábricas concentradoras do capital produzido pelo trabalho de superexploração. Enquanto a burguesia urbana enriquecia pelo espólio colonial, adquirido por invasões às civilizações asiáticas e africanas, a Europa vivia o luxo de deter o poder sobre o mundo menos abastado e via-o como uma simples base de sustentação.

As revoluções de 1848 e a Comuna de Paris de 1871 provocaram uma nova reorganização social. Possivelmente, podemos afirmar que os maiores resultados do conflito entre os trabalhadores e a burguesia exploradora, foi a construção de um Estado de Bem-estar social. Os trabalhadores, logo após terem adquirido direitos civis, políticos e sociais, passaram a escolher os seus representantes por meio do voto, minando o pleno poder da monarquia. Os sindicatos puderam ser criados para garantirem uma renda mínima ao trabalhador e, posteriormente, a sua existência em sociedade.



“[...] As contradições, no entanto, continuaram existindo. As cidade cresciam sem planejamento e não ofereciam as mínimas condições de higiene: acentuava-se as divisões de trabalho entre a burguesia e o proletariado; o Socialismo que deu origem as teorias de Karl Marx, o Anarquismo de Mikhail Bakunin e de outros líderes ganharam adeptos; enquanto as revoltas de trabalhadores se tornaram constantes. A Comuna de Paris (1871) conseguiu, durante setenta dias, promover um radical governo proletário, até a sua violenta dissolução pelas forças conservadoras, que favoreceu ainda mais a euforia burguesa e do capitalismo desumano, que continuaram massacrando o proletariado [...]”

Gomes, morgana.

 

Em análise fria, podemos observar que as misérias do mundo Ocidental e, posteriormente, das demais regiões se deram com a urbanização industrial e a consequente concentração de riquezas nas mãos de grupos seletos. Desde o período Renascentista, o mundo mantinha uma estabilização econômica e social bucólica, com uma manutenção de desenvolvimento retilíneo e contínuo.

 

“A natureza do homem é de tal maneira que, ele não pode atingir a perfeição, senão agindo para o bem e a perfeição da humanidade (sic).”

(Karl Marx).

 

Por Moisés Calado.

quinta-feira, 23 de junho de 2022

"INTERTEMPORAL": O NOVO ROMANCE DE MOISÉS CALADO

 



UMA VIAGEM ENTRE OS TEMPOS


Imagem: arquivo pessoal do autor. Foto: por Selly Edny


Repleto de tecnologias ainda inexistentes, o novo romance ficcional do autor Moisés Calado promete nos levar a viagens pelo tempo em diferentes épocas. Indo do passado ao futuro e preenchendo-se no presente, o escrito é perfeito por distopias e realidades inconcebíveis ⸺ pelo menos assim pensavam as pessoas em períodos remotos da história humana. As sociedades e os acontecimentos citados na obra exemplificam as díspares épocas em que o ser humano desacreditou que algo poderia existir e restringia-se apenas a imaginação humana.      

Segundo o autor de “A Ordem” (2018), “O Escritor: Reencontro com a razão” (2019), “Exorcismus ⸺ Sob a influência do mal” (2015. Selo: Chiado Books), “Elisabeth” (2019), “Imaculada Percepção” (2020), “Além da Terra, Além do Céu” (antologia de 2020, Selo: Chiado Books) e agora “Intertemporal” (2019 a 2022), a obra fora produzida em uma época em que as máquinas predominam através da concepção e aperfeiçoamento da inteligência artificial.

Elaborado no início de 2019, antes do surgimento do vírus SARS COV 2/Covid-19, o romance fala sobre um patógeno letal que se espalha sobre a Terra com a ajuda das guerras de proporções nucleares. O “Governo” usara todos os recursos pertencentes ao povo e passara a estudar a eugenia para o aperfeiçoamento da raça humana. A Teoria Malthusiana fora criada pelo pastor da Igreja Anglicana, Thomas Robert Malthus, nascido em 1766; ele estudava a reprodução desenfreada dos seres humanos. O clérigo, como um exímio estudioso demográfico, desenvolvera uma forma única de frear o crescimento populacional através da contenção sexual antes do casamento, condicionamento moral para retardar as práticas antes do matrimônio e ter um número específico de filhos, preferencialmente, o quanto se pudesse sustentar; as suas ideias são citadas de forma admirável em “Intertemporal”, assim nos revela o criador da obra.

Visto como um escritor de romances policiais e terror psicológico, Moisés Calado se introduzira na ficção científica com uma temática atualíssima, remetendo críticas aos governos, glosando sobre Física, Biologia e possíveis guerras futurísticas. A Teoria ou Princípio da Consistência ou Autoconsistência de Novikov, também nos esclarece o porquê da não existência dos paradoxos temporais e a irreprochável peregrinação do protagonista pelas diversas épocas apresentadas a ele, o qual passa a ser a “causa da consequência do seu próprio evento”, sem alterações ramificadas na linha de tempo.     



Imagem: arquivo pessoal do autor. Por Andréa Alcântara.


O autor também nos fala sobre a personalidade forte do seu protagonista e a sua busca pelo amor a si mesmo, levando-nos a acreditar que o personagem “Siomes” (um anagrama do seu próprio nome, “Moisés”) demonstra ter características depressivas. Ainda na mesma obra, pode-se encontrar cenas adultas, “com sexo explícito e excitante”, diz o escritor.

A obra vem sendo analisada por algumas editoras fora do eixo de contratos editoriais do classicista e aguarda por futuras resoluções. Esperemos que muito em breve este romance esteja nas prateleiras e lojas virtuais de todo o Brasil.

 

Por Cláudio Bittencuor.

 

 

 

 

 

 

MUAMMAR GADDAFI, O HOMEM QUE QUIS UNIFICAR OS POVOS

Muammar Gaddafi Foto: Google imagens. Gaddafi.   Nascido a 1942 em Abu Hadi ,  Líbia Italiana , Muammar Mohammed Abu Minyar al-Gaddafi desc...