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terça-feira, 19 de setembro de 2023

HÁ 102 ANOS NASCIA UM GÊNIO BRASILEIRO: CONHEÇA PAULO FREIRE



Imagem: Por Pensar a História


Há 102 anos, em 19/09/1921, nascia o filósofo e educador pernambucano Paulo Freire. Considerado um dos grandes pensadores da história da pedagogia mundial, Paulo Freire é o maior expoente da pedagogia crítica e referência basilar dos movimentos de educação popular.

Paulo Freire se destacou por seu método de alfabetização dialético, baseado na conscientização política. É autor de "Pedagogia do Oprimido", 3º livro mais citado em trabalhos acadêmicos de ciências sociais em todo o mundo. É também o Patrono da Educação Brasileira.


Imagem: Arquivo Paulo Freire

Paulo Freire nasceu em Recife, em uma família de classe média. A crise de 1929 e a morte precoce de seu pai fez com que a família fosse submetida a diversas privações de materiais — experiência que marcaria profundamente a futura atuação política e profissional do educador.

Concluiu o ensino básico como bolsista do Colégio Oswaldo Cruz, onde posteriormente atuou como professor de português. Em 1943, ingressou no curso de direito da Universidade do Recife (atual UFPE). No ano seguinte, casou-se com a professora Elza Maia Costa de Oliveira.

Em 1947, Paulo Freire assumiu a direção do Dpto. de Educação e Cultura do SESI, onde coordenou um trabalho de alfabetização de operários da indústria. Também atuou como membro do Conselho de Consultivo de Educação e como diretor do Dpto. de Documentação e Cultura em Recife.




Doutorou-se em filosofia pela Universidade de Recife em 1959. Tornou-se professor dessa mesma instituição, lecionando filosofia da educação. Em 1961, dirigiu a direção do Departamento de Extensão, iniciando seus trabalhos experimentais com alfabetização de adultos.

O projeto resultou na alfabetização de 380 jovens e adultos em apenas 40 horas. O modelo didático experimental estimulou o aprendizado por meio da discussão sobre o cotidiano da comunidade, o universo vocabular e as experiências de vida dos alfabetizandos, encorajando o desenvolvimento de uma consciência crítica sobre a realidade social. Fundamentado na autonomia pedagógica do estudante, o método contrapunha-se à chamada "educação bancária", onde predomina a figura do professor como centro do processo de aprendizagem.

O sucesso do método, que permitiu a alfabetização de um grande número de pessoas com baixo custo, despertou o interesse das autoridades. Ainda em 1963, Paulo Freire foi indicado pelo governador de Pernambuco, Miguel Arraes, para integrar o Conselho Estadual de Educação.




Também no mesmo ano, Paulo Freire foi orientado à direção do Plano Nacional de Educação (PNE), durante o governo de João Goulart, recebendo a incumbência de aplicar seu método de alfabetização a 16 milhões de adultos durante quatro anos.

A iniciativa estratégia forte resistência das oligarquias. Como a legislação vigente assegurava o direito de voto aos cidadãos alfabetizados, o projeto daria direitos políticos a milhões de deputados de baixa renda, desvinculados dos interesses das classes dominantes.

Paralelamente, ocorreu no RN uma greve de trabalhadores da construção civil alfabetizados pelo método freiriano. Após tomarem ciência do conteúdo da CLT, os operários cruzaram os braços e passaram a exigir o cumprimento do descanso semanal e da jornada de trabalho limitada.

Após a deposição de João Goulart no golpe de 1964, o cancelamento do Plano Nacional de Educação foi uma das primeiras medidas tomadas pelos militares. Paulo Freire foi preso pelos golpistas e ficou detido por 72 dias.




No inquérito que embasou o pedido de prisão, suspensivo pelo tenente-coronel Hélio Ibiapina Lima, o educador foi descrito como "cripto-comunista encapuçado sob a forma de alfabetizador" e "um dos maiores responsáveis ​​pela subversão imediata dos menos favorecidos".

Dezenas de educadores ligados ao PNE e à experiência de Angicos foram presos. Em substituição ao projeto de Paulo Freire, a ditadura militar instituiu o Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL), alicerçado sob os preços autoritários e despolitizantes do regime.

Após ser libertado, Paulo Freire foi exilado no Chile, onde trabalhou para o Instituto Chileno de Reforma Agrária. Durante sua estadia em Santiago, escreveu duas de suas principais obras: "Educação Como Prática da Liberdade" e "Pedagogia do Oprimido".




Lecionou em Harvard em 1969 e, no ano seguinte, mudou-se para Genebra, atuando como consultor especial para o Conselho Mundial de Igrejas. Nos anos 70, Paulo Freire passou para mais de 30 países, prestando consultoria educacional e coordenando projetos de alfabetização.

Teve se destacou atuando na África, onde implementou importantes projetos educacionais na Guiné-Bissau, Moçambique, Zâmbia e Cabo Verde. Paulo Freire retornou ao Brasil em 1980, um ano após a sanção da Lei da Anistia, que permitiu o regresso dos exilados políticos.

Nesse mesmo ano, tornou-se membro-fundador do Partido dos Trabalhadores (PT). Atuoso no movimento pela redemocratização e na campanha das Diretas Já. Também retomei a carreira letiva, dando aulas na PUC-SP e na Unicamp.




Em 1988, dois anos após o falecimento de sua primeira esposa, Elza, casou-se com Ana Maria Araújo, que seria sua companheira até o fim da vida. Nesse mesmo ano, foi nomeado secretário de educação da Prefeitura de São Paulo, durante a gestão de Luiza Erundina.

À frente da massa, Paulo Freire expandiu uma rede de ensino, buscou universalizar o acesso à educação básica, criou o Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos (MOVA) e instituiu uma política de formação continuada em serviço.

Permaneceu no cargo até 1991, sendo sucedido por seu orientador, Mario Sergio Cortella. Faleceu na capital paulista 6 anos depois, em 2 de maio de 1997, aos 76 anos. Paulo Freire é considerado o mais influente educador da teoria e da prática da pedagogia crítica.




É o terceiro acadêmico mais citado em trabalhos na área de humanidades no mundo, à frente de nomes como Michel Foucault e Pierre Bourdieu, e é o único brasileiro presente entre os 100 autores mais lidos nas universidades anglofonas.

O alemão Heinz Peter Gerhardt descreveu como "o educador mais bem conhecido de nossa era" e "um educador utópico que manteve sua fé na habilidade das pessoas manifestando suas ideias, ajudando a recriar um mundo mais voltado à justiça social".

Em todo o mundo, há cerca de 350 escolas, universidades, bibliotecas e instituições batizadas com seu nome. É o patrono de nove cátedras dedicadas à sua memória e foi homenageado com 35 títulos de doutor "honoris causa" em universidades brasileiras, americanas e europeias.




Também foi laureado com o Prêmio da UNESCO para a Educação e a Paz em 1986 e é o Patrono da Educação Brasileira desde abril de 2012.




Por Pensar a História.

Adaptação: Moisés Calado. 

segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

HIPÁTIA: A PRIMEIRA MATEMÁTICA DA HISTÓRIA

 

Imagem: Revista Superinteressante


Geralmente, as grandes personalidades da biografia humana vêm sob a imagem masculina diligenciando a conjuntura histórica aos olhos patriarcais. São raros os momentos que nos deparamos com matérias grafadas em grandes veículos de comunicação, enfatizando o papel das mais importantes mulheres que passaram por esta vida, assim como os seus preciosos trabalhos deixados para a posteriori serem estudados. Hipátia de Alexandria, fora uma delas.

Também conhecida como Hipácia ou Hypatia, a estudiosa nascera em Alexandria, no Egito do Século IV d.C, no ano de 355, aproximadamente. Filha de Theon (também matemático, astrônomo e filósofo), Hipátia é conhecida como a primeira matemática da História. No entanto, as suas contribuições não se restringem apenas a este campo de estudo. A acadêmica era uma grande estudiosa das esferas filosóficas platônicas e astronômicas, e chegou a dar aulas na sua cidade natal atendendo aos domínios então citados.

Hipátia estudou na Academia de Alexandria e em uma escola neoplatônica de Atenas, na Grécia. Posteriormente, ao concluir os seus estudos acadêmicos, ela se tornara diretora da Academia de Alexandria, porém, sempre lecionando. Antes de Galileu ou dos grandes astrônomos conjeturar sobre a forma esférica e o movimento de Rotação e Translação perfeitos pela Terra em torno de si mesma e do Sol, a estudiosa já elaborava teses sobre tais movimentos cosmológicos. Seus alunos relataram que o Movimento Elíptico do nosso planeta em volta da nossa estrela, fora descoberto por ela momentos antes de Alexandria ser invadida por cristãos e judeus, que destruíram a maior fonte de conhecimento do mundo antigo: a Biblioteca de Alexandria. Pouco se sabe sobre as descobertas de Hipátia por não haver registros após a destruição da Biblioteca. Assim, os conhecimentos foram transferidos pelos seus alunos mais assíduos.

A mente irrequieta da astrônoma fez com que ela criasse o astrolábio e o hidroscópio, os quais usava com frequência em suas aulas na Academia. Apesar de não atuar na área, Hipátia produziu trabalhos sobre medicina. Chegou a aperfeiçoar a aritmética de Diofanto de Alexandria e escreveu 13 obras comentadas ⸺ juntamente com o seu pai Theon ⸺, que falam sobre os Elementos de Euclides, o grande mestre grego.


Imagem: BBC News Brasil


Infelizmente, especula-se que a pensadora tenha sido morta por fanáticos religiosos após resguardar o raciocínio lógico defendido pelos antigos gregos. Pouco se sabe sobre como ela morrera, mas há quase um consenso que fora assassinada brutalmente em meio à rua, espancada e apedrejada, entre 415 e 416 d.C. 



Por Moisés Calado.






quinta-feira, 18 de agosto de 2022

CONHEÇA NOAM CHOMSKY, O MAIOR INTELECTUAL VIVO E AMIGO ÍNTIMO DE LULA

 

Imagem: CUT. Lula e Noam Chomsky


Nascido na Filadélfia, Pensilvânia, filho de um famoso estudioso hebreu, Chomsky é talvez um dos mais conhecidos pensadores de nosso tempo. Sua obra foi fundamental ao desenvolvimento da linguística no século XX. Porém, é importante perceber, que o trabalho de Chomsky neste campo origina-se de um ponto de vista filosófico com uma longa herança. Ele também é conhecido pelos seus comentários políticos e sociais, os quais, até certo ponto, são também feitos com as mesmas crenças filosóficas. Após ser dissuadido a abandonar os seus estudos universitários pelo renomado professor de linguística, Zellig Harris, Chomsky escreveu a sua obra “Estruturas Sintáticas”, publicada em 1957, a qual influenciou os estudos nessa área a partir de sua publicação. Desde aquela época, Chomsky desenvolveu e modificou seus pontos de vista em muitos trabalhos importantes, particularmente em seu “Aspecto da Teoria da Sintaxe, Língua e Mente”, e mais recentemente, “O Programa Minimalista”. De seus muitos escritos políticos, os mais influentes são: “O poder Americano e os Novos Mandarins”, “Direitos Humanos e a Nova Política Estrangeira Americana” e “O Triângulo Fatídico: O Estados Unidos, Israel e os Palestinos”. Chomsky continua a escrever ativamente sobre linguística e política.


Imagem: arquivo pessoal. Noam Chomsky em defesa de Lula


O trabalho de linguística baseado em uma teoria racionalista da mente, a qual postula em oposição à tradição empírica originária de Locke ⸺ e que estava em evidência antes do trabalho de Chomsky ⸺ que a mente do ser humano ao nascer está muito distante de ser pedra em branco ou tabula rasa, pelo contrário, é condicionada em suas operações por certas estruturas inatas. A preocupação de Chomsky, certamente, é com o aprendizado da língua e as “estruturas sintáticas” que fazem parte de diferentes línguas. Na visão de Chomsky, todas as línguas compartilham, em um nível fundamental, uma estrutura universal, ou gramática, e essa gramática universal está instalada em nossos cérebros, em vez de algo que é aprendido por meio da experiência e do ensinamento.

A noção de uma gramática universal é relativamente simples. Há algo em torno de 5.000 variedades conhecidas de língua humana. De acordo com Chomsky, apesar das muitas diferenças formais entre elas, todas são condicionadas por certos parâmetros e princípios que são inatos e únicos à mente humana. Um argumento significativo para esta conclusão é o que alguns chamam de “argumento da produtividade”. Psicólogos experimentais geralmente confirmarão a velocidade na qual se desenvolve a habilidade gramatical nas crianças com dois ou três anos de idade, uma habilidade que vai além da escassa absorção da língua à qual elas têm sido expostas até o momento.

Consequentemente, seria plausível supor que a criança tenha uma vantagem inicial. As regras gramaticas não precisam ser aprendidas, elas já estão instaladas na mente: a exposição à língua; desde sua tenra idade, meramente aciona o gatilho, e a criança desenvolve sua competência linguística à uma velocidade acelerada.

Esse processo de instalação é, como outras faculdades cognitivas, um aspecto da nossa natureza humana. Chomsky vê isso como tendo implicações políticas positivas. Em vez de ser uma folha em branco do empirismo de Locke, ou dos agentes do existencialismo, nossa natureza nos previne de sermos subjugados por forças extremas livres e inconstantes. Nossa natureza determina que existam apenas certas estruturas políticas, as quais podemos tolerar. Sistemas políticos opressivos, como os retratados por Orwell em seu livro “1984”, ou por Huxley em seu “Admirável Mundo Novo”, não podem completamente moldar nossa mente. Nossos pensamentos não são, como psicólogos comportamentais do início do Século XX supunham, respostas meramente condicionadas a estímulos repetidos. A ideia de ser um “agente livre” está tão inserida em nossa natureza, quanto os condicionamentos que atuam em nossa forma de discurso.




Imagem: Noam Chomsky por "Acampamento Lula Livre"


Isso revela um desenvolvimento posterior da teoria linguística de Chomsky. Para ele, a natureza da mente humana é revelada pela natureza da língua. Não porque a língua é uma atividade unicamente humana, mas também porque a língua “é o veículo do pensamento”, e por isso colocada unicamente para iluminar a essência da mente humana. É importante lembrar que Chomsky vê a mente com princípios e processos cognitivos que fazem parte do comportamento humano e que Chomsky firmemente se prende a uma teoria que remonta ao “inatismo” de Leibniz e outros. De acordo com essa teoria, a mente humana é dotada ⸺ como foi dito ⸺ de certas propriedades inatas, que determinam como nós somos e o que nós podemos saber.

 

“A LÍNGUA É O VEÍCULO DO PENSAMENTO E, POR ISSO,

UNICAMENTE COLOCADA PARA

ILUMINAR A ESSÊNCIA DA MENTE HUMANA”

 

Chomsky é tão conhecido agora por seus numerosos escritos políticos, quanto pelo seu trabalho em linguística. Crítico constante da política estrangeira dos Estados Unidos e do seu envolvimento no Vietnã, no Camboja e nas guerras do Golfo. Ele é um partidário ativo de mudanças sociais radicais nos EUA, e continua o seu trabalho como linguista e filósofo teórico. Ele descreve sua visão política como “socialista libertária” ⸺ uma mistura de socialismo e anarquismo, assim por dizer.

 

Leituras Essenciais:

Estruturas Sintáticas (1957) e Aspectos da Teoria da Sintaxe, da Língua e da Mente (1965).

 

Análise, tradução e transcrição do livro de Philip Stokes: “Os Grandes Pensadores”.

 

Por Moisés Calado.

terça-feira, 9 de agosto de 2022

SÃO TOMÁS DE AQUINO, O FILÓSOFO DA IGREJA CATÓLICA

 



O filósofo favorito da Igreja Católica, Santo Tomás de Aquino é lembrado principalmente por ter conciliado a filosofia de Aristóteles com a doutrina cristã. Nascido ao norte da Sicília, foi primeiramente educado na cidade de Nápoles e mais tarde em Colônia, proferindo palestras em Paris e Nápoles. São Tomás de Aquino foi canonizado em 1323 pelo Papa João XII.

Enquanto muito de seu trabalho fosse de origem aristotélica, a expansão das ideias de Aristóteles também foi-lhe atribuída, por fazer muitas contribuições originais ao pensamento aristotélico, deixando-o entre os maiores colaboradores da filosofia ocidental cristã. Entre muitas de suas conquistas está o principal trabalho chamado “Os Cinco Caminhos”, ou provas da existência de Deus de sua suma teológica. “Os Cinco Caminhos” são a tentativa mais clara de provar existência de Deus através de argumentos lógicos.

No primeiro dos cinco Caminhos, São Tomás de Aquino diz que a existência de Deus pode ser provada ao considerar o conceito de mudança. Claramente podemos ver que algumas coisas no mundo estão em processo de mudança, e esta mudança tem que ser o resultado de alguma coisa a mais, uma vez que algo não se pode mudar sozinho. Mas a causa da mudança em si, uma vez que no processo de mudança tem que ser causado por outro fator, e assim por diante, infinitamente. Evidentemente, tem que haver alguma coisa a qual seja a causa de todas as mudanças, mas que seja imutável. Pois como São Tomás de Aquino diz: “Se a mão não move o bastão, o bastão não moverá nada sozinho”. O agente primeiro do movimento, ele conclui, é Deus.

 

“SE A MÃO NÃO MOVE O BASTÃO,

O BASTÃO NÃO MOVERÁ NADA SOZINHO”

 

No segundo caminho, argumentando de maneira similar ao primeiro, Aquino observa que as causas sempre operam em série, mas tem que haver uma primeira causa das séries, ou então nada poderia, de forma alguma, existir uma série.  Interessante disso é que, o primeiro e segundo Caminhos, afirmam que uma coisa não pode causar a si própria. Porém, essa é exatamente a sua conclusão: há algo que causa a si próprio chamado Deus. Os filósofos têm criticado essa forma de argumento dizendo ser confusa, desde que o tema a ser provado na conclusão é o mesmo tema negado no argumento.


Imagem: Apoteose. FASBAM


No terceiro Caminho, nota-se que as coisas no mundo vêm a ser e depois deixam de ser. Mas claramente nem tudo pode ser assim, pois se fosse, haveria um tempo onde nada existiria. Porém, se fosse verdade, então nada poderia jamais vir a existir, uma vez que algo não pode surgir do nada. Consequentemente, alguma coisa sempre existiu, e isto é o que as pessoas entendem como Deus. O primeiro, segundo e terceiro Caminhos de São Tomás de Aquino, são geralmente chamados de Argumento Ontológico ligados as análises de Santo Anselmo, O Doutor da Igreja. Em sua versão, nota-se que algumas coisas exibem níveis variáveis de qualidade. Algo pode ser mais ou menos quente, mais ou menos bom, mais ou menos nobre. Tais variações de qualidade são causadas por algo que contém a maioria ou a perfeita quantidade desta qualidade. Da mesma forma que o sol é a coisa mais quente e assim ser a causa de todas as outras coisas serem quentes, então deve haver uma “bondade” completa a qual faz todas as outras coisas serem boas. É claro que, esta que é a melhor dentre as outras, é Deus.

Finalmente, no quinto Caminho, ele se baseia na noção aristotélica de “telos”, finalidade. Todas as coisas se direcionam para o mesmo objetivo ou fim. Mas se guiado por uma finalidade ou objetivo, implica em uma mente que direciona ou pretende tal finalidade. Este que direciona é, mais uma vez, Deus. Versões dos argumentos Cosmológico e Ontológico de São Tomás de Aquino ainda são aceitas pelo Igreja Católica de hoje, embora os filósofos modernos tenham rejeitado quase que unanimamente “Os Cinco Caminhos” de São Tomás de Aquino.

 

 

Leituras essenciais:

Suma Contra os Gentios (1259-1264): Este é o trabalho mais importante de São Tomás de Aquino, e tem o objetivo de estabelecer, através de argumentos filosóficos, a verdade da religião cristã, provando a existência de Deus e discutindo a Sua natureza, a criação e a Sua finalidade, a alma, a ética,  pecado e a Santíssima Trindade.

Suma Teológica (1266-1273): É um trabalho imenso, nada semelhante a um sumário, na acepção da palavra. A primeira parte discute sobre Deus, a criação e a natureza humana; a segunda parte lida com a moral, e a terceira parte discute sobre Cristo e os sacramentos. São Tomás de Aquino deixou incompleta a terceira parte, pois certo dia teve uma visão mística, através da qual ele disse que tudo o que havia escrito parecia irrelevante.

 


Análise e transcrição do Livro de Philip Stokes: Filosofia ⸺ Os Grandes Pensadores.

 

Por Moisés Calado.


quinta-feira, 28 de julho de 2022

A FILOSOFIA ARISTOTÉLICA


Imagem: EducaBra. Aristóteles.

 

Nascido em 384 a.C, Aristóteles conquistou incomparavelmente o pensamento ocidental, desenvolvendo-o de forma impressionante as ideias de Platão e Sócrates, transformando-as em uma reflexão única. Mais do que um filósofo, Aristóteles foi cientista, astrônomo, teórico político e inventor do que hoje chamamos de lógica formal ou simbólica. Escreveu extensivamente sobre biologia, psicologia, ética, física, metafísica e política. Estabeleceu os termos de debate em todas essas áreas usados até os tempos modernos. Os seus escritos sobre justiça são referências INDISPENSÁVEIS aos estudantes e operadores do Direito.

Após a sua morte, seus trabalhos se perderam por mais de 200 anos, mas felizmente foram redescobertos em Creta, na Grécia. Mais tarde traduzidos para o latim por Boécio, por volta do ano 500 d.C, a influência de Aristóteles se espalhou por toda a Síria e o mundo Islâmico, enquanto a Europa cristã o ignorou em favor de Platão. Ele passou a se tornar influente na Europa Ocidental só depois que São Tomás de Aquino reconciliou o trabalho de Aristóteles com a doutrina Cristã, no Século XIII.


Imagem: Europa. Ilha de Creta.


Aos 17 anos de idade, Aristóteles recebeu os ensinamentos na Academia de Platão, onde permaneceu por 20 anos, até a morte de Platão. Mais tarde ele fundou a sua própria instituição, o Liceu, onde ele expôs uma filosofia diferente em método e conteúdo da de seu mestre.

Mais do que qualquer outro filósofo antes dele, Aristóteles fez muitas observações e classificações estritas de dados em seus estudos. Por esta razão ele é considerado o pai da ciência empírica e do método científico. Diferente de  seu predecessor Platão, Aristóteles sempre empreendia suas investigações considerando as opiniões de especialistas e leigos, antes de detalhar seus próprios argumentos, assumindo que um pouco de verdade pode ser encontrada em ideias já concebidas. O método de Aristóteles era rigoroso e sem o tom proselitista de muitos de seus predecessores.

Ao contrário de Platão e dos pré-socráticos, Aristóteles rejeitou a ideia de que muitos dos diversos ramos da indagação humana poderiam, em princípio, serem classificados sob uma disciplina baseada em algum princípio filosófico universal. Ciências diferentes requerem axiomas diferentes e admitem níveis variáveis de precisão de acordo com o assunto delas. Assim, Aristóteles negava que pudesse haver leis exatas da natureza humana, enquanto sustentava que certas categorias da metafísica ⸺ tais como quantidade, qualidade, substância e relação ⸺ fossem aplicáveis à descrição de todos o fenômeno. Se há uma linha comum em muito do trabalho de Aristóteles, essa está em seu conceito de teleologia ou finalidade. Talvez, como resultado de sua preocupação com estudos biológicos, Aristóteles ficou impressionado pela ideia de que o comportamento animado e inanimado vai em direção a alguma finalidade (“telos”) ou objetivo. É comum explicar o comportamento das pessoas, instituições e nações em termos de finalidade e objetivo (por exemplo: João está sentado à banca examinadora para ser um advogado; a escola está promovendo uma festa para arrecadar fundos para o telhado; o país vai para a guerra para proteger seu território), e do mesmo modo a biologia moderna evolucionária faz uso de explicações objetivas para justificar o comportamento de, por exemplo, genes e imperativos genéticos. Porém, Aristóteles pensava que o conceito de finalidade poderia ser invocado para explicar o comportamento de todas as coisas no universo. Seu raciocínio se baseia na ideia de que todas as coisas têm uma função natural e luta para efetivar ou exibir essa função, a qual é seu estado mais natural e melhor. É pelo conceito de função que Aristóteles então conecta sua ética à sua física, alegando que a função natural do homem é pensar, e pensar bem é pensar de acordo com sua virtude. Diferente das opostas teorias sobre ética de Kant e Mill, ambas as quais veem as ações como assunto de julgamentos éticos, a ética de Aristóteles focaliza no caráter do agente como aquele que é moralmente bom ou mau. Esta tão chamada “virtude ética” foi revivida com muito sucesso de crítica pela filosofia moral de Alistair Macintyre, no Século XX.

 

Leituras essenciais sobre Aristóteles:

Ética a Nicômaco: um dos trabalhos mais importantes e influentes sobre ética que já foi escrito, ele contém uma discussão sobre virtude e sua relação com o bem-estar e a felicidade. As visões éticas de Aristóteles mostram uma clara compreensão da psicologia e natureza humana.

Política: uma discussão sobre a cidade-estado ideal. Classificação dos méritos e deméritos de cada tio de governo. O livro inclui uma defesa da escravidão (demérito).

Física: fala sobre a matéria, forma, causação, espaço, tempo e movimento. Importante por causa da natureza da explicação.

 

Análise do livro de Philip Stokes: “Filosofia: Os grandes pensadores”.

 

Por Moisés Calado.

"O Corvo", de Edgar Allan Poe

Imagem: Arquivo pessoal. Edgar Allan Poe. Seu texto mais famoso é o poema narrativo  O corvo  ( The raven ) , de 1845. Nesse poema,   o na...