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terça-feira, 19 de setembro de 2023

HÁ 102 ANOS NASCIA UM GÊNIO BRASILEIRO: CONHEÇA PAULO FREIRE



Imagem: Por Pensar a História


Há 102 anos, em 19/09/1921, nascia o filósofo e educador pernambucano Paulo Freire. Considerado um dos grandes pensadores da história da pedagogia mundial, Paulo Freire é o maior expoente da pedagogia crítica e referência basilar dos movimentos de educação popular.

Paulo Freire se destacou por seu método de alfabetização dialético, baseado na conscientização política. É autor de "Pedagogia do Oprimido", 3º livro mais citado em trabalhos acadêmicos de ciências sociais em todo o mundo. É também o Patrono da Educação Brasileira.


Imagem: Arquivo Paulo Freire

Paulo Freire nasceu em Recife, em uma família de classe média. A crise de 1929 e a morte precoce de seu pai fez com que a família fosse submetida a diversas privações de materiais — experiência que marcaria profundamente a futura atuação política e profissional do educador.

Concluiu o ensino básico como bolsista do Colégio Oswaldo Cruz, onde posteriormente atuou como professor de português. Em 1943, ingressou no curso de direito da Universidade do Recife (atual UFPE). No ano seguinte, casou-se com a professora Elza Maia Costa de Oliveira.

Em 1947, Paulo Freire assumiu a direção do Dpto. de Educação e Cultura do SESI, onde coordenou um trabalho de alfabetização de operários da indústria. Também atuou como membro do Conselho de Consultivo de Educação e como diretor do Dpto. de Documentação e Cultura em Recife.




Doutorou-se em filosofia pela Universidade de Recife em 1959. Tornou-se professor dessa mesma instituição, lecionando filosofia da educação. Em 1961, dirigiu a direção do Departamento de Extensão, iniciando seus trabalhos experimentais com alfabetização de adultos.

O projeto resultou na alfabetização de 380 jovens e adultos em apenas 40 horas. O modelo didático experimental estimulou o aprendizado por meio da discussão sobre o cotidiano da comunidade, o universo vocabular e as experiências de vida dos alfabetizandos, encorajando o desenvolvimento de uma consciência crítica sobre a realidade social. Fundamentado na autonomia pedagógica do estudante, o método contrapunha-se à chamada "educação bancária", onde predomina a figura do professor como centro do processo de aprendizagem.

O sucesso do método, que permitiu a alfabetização de um grande número de pessoas com baixo custo, despertou o interesse das autoridades. Ainda em 1963, Paulo Freire foi indicado pelo governador de Pernambuco, Miguel Arraes, para integrar o Conselho Estadual de Educação.




Também no mesmo ano, Paulo Freire foi orientado à direção do Plano Nacional de Educação (PNE), durante o governo de João Goulart, recebendo a incumbência de aplicar seu método de alfabetização a 16 milhões de adultos durante quatro anos.

A iniciativa estratégia forte resistência das oligarquias. Como a legislação vigente assegurava o direito de voto aos cidadãos alfabetizados, o projeto daria direitos políticos a milhões de deputados de baixa renda, desvinculados dos interesses das classes dominantes.

Paralelamente, ocorreu no RN uma greve de trabalhadores da construção civil alfabetizados pelo método freiriano. Após tomarem ciência do conteúdo da CLT, os operários cruzaram os braços e passaram a exigir o cumprimento do descanso semanal e da jornada de trabalho limitada.

Após a deposição de João Goulart no golpe de 1964, o cancelamento do Plano Nacional de Educação foi uma das primeiras medidas tomadas pelos militares. Paulo Freire foi preso pelos golpistas e ficou detido por 72 dias.




No inquérito que embasou o pedido de prisão, suspensivo pelo tenente-coronel Hélio Ibiapina Lima, o educador foi descrito como "cripto-comunista encapuçado sob a forma de alfabetizador" e "um dos maiores responsáveis ​​pela subversão imediata dos menos favorecidos".

Dezenas de educadores ligados ao PNE e à experiência de Angicos foram presos. Em substituição ao projeto de Paulo Freire, a ditadura militar instituiu o Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL), alicerçado sob os preços autoritários e despolitizantes do regime.

Após ser libertado, Paulo Freire foi exilado no Chile, onde trabalhou para o Instituto Chileno de Reforma Agrária. Durante sua estadia em Santiago, escreveu duas de suas principais obras: "Educação Como Prática da Liberdade" e "Pedagogia do Oprimido".




Lecionou em Harvard em 1969 e, no ano seguinte, mudou-se para Genebra, atuando como consultor especial para o Conselho Mundial de Igrejas. Nos anos 70, Paulo Freire passou para mais de 30 países, prestando consultoria educacional e coordenando projetos de alfabetização.

Teve se destacou atuando na África, onde implementou importantes projetos educacionais na Guiné-Bissau, Moçambique, Zâmbia e Cabo Verde. Paulo Freire retornou ao Brasil em 1980, um ano após a sanção da Lei da Anistia, que permitiu o regresso dos exilados políticos.

Nesse mesmo ano, tornou-se membro-fundador do Partido dos Trabalhadores (PT). Atuoso no movimento pela redemocratização e na campanha das Diretas Já. Também retomei a carreira letiva, dando aulas na PUC-SP e na Unicamp.




Em 1988, dois anos após o falecimento de sua primeira esposa, Elza, casou-se com Ana Maria Araújo, que seria sua companheira até o fim da vida. Nesse mesmo ano, foi nomeado secretário de educação da Prefeitura de São Paulo, durante a gestão de Luiza Erundina.

À frente da massa, Paulo Freire expandiu uma rede de ensino, buscou universalizar o acesso à educação básica, criou o Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos (MOVA) e instituiu uma política de formação continuada em serviço.

Permaneceu no cargo até 1991, sendo sucedido por seu orientador, Mario Sergio Cortella. Faleceu na capital paulista 6 anos depois, em 2 de maio de 1997, aos 76 anos. Paulo Freire é considerado o mais influente educador da teoria e da prática da pedagogia crítica.




É o terceiro acadêmico mais citado em trabalhos na área de humanidades no mundo, à frente de nomes como Michel Foucault e Pierre Bourdieu, e é o único brasileiro presente entre os 100 autores mais lidos nas universidades anglofonas.

O alemão Heinz Peter Gerhardt descreveu como "o educador mais bem conhecido de nossa era" e "um educador utópico que manteve sua fé na habilidade das pessoas manifestando suas ideias, ajudando a recriar um mundo mais voltado à justiça social".

Em todo o mundo, há cerca de 350 escolas, universidades, bibliotecas e instituições batizadas com seu nome. É o patrono de nove cátedras dedicadas à sua memória e foi homenageado com 35 títulos de doutor "honoris causa" em universidades brasileiras, americanas e europeias.




Também foi laureado com o Prêmio da UNESCO para a Educação e a Paz em 1986 e é o Patrono da Educação Brasileira desde abril de 2012.




Por Pensar a História.

Adaptação: Moisés Calado. 

quarta-feira, 5 de julho de 2023

MARIETTA BADERNA, O NOME QUE VIROU SINÔNIMO DE CONFUSÃO NO DICIONÁRIO BRASILEIRO

 


MARIETTA BADERNA E A CRIAÇÃO DA "CONFUSÃO"


Imagem: Pensar a História



Há 195 anos, 5/7/1828, nascia a bailarina Marietta Baderna. Seu comportamento boêmio e o hábito de incorporar elementos da cultura afro-brasileira em sua dança escandalizariam de tal modo a elite carioca que seu sobrenome seria dicionarizado como sinônimo de "confusão".

Marietta Baderna nasceu na cidade italiana de Piacenza, na região da Emília-Romanha, filha do médico Antonio Baderna. Desde criança, Marietta nutria o sonho de se tornar bailarina, o que se concretizou com sua estreia nos palcos de Piacenza aos doze anos de idade.


Imagem: Pensar a História

Aprendiz do célebre coreógrafo Carlo Blasis, Marietta não tardou em se destacar dança: ainda adolescente, tornou-se integrante do corpo de baile do Teatro Alla Scala de Milão e, aos 19 anos, viajou para a Inglaterra, onde se apresentou em uma temporada no Covent Garden.

Se sua carreira profissional deslanchava, o mesmo não poderia ser dito de seus ideais políticos. Marietta e seu pai eram republicanos, partidários do revolucionário Giuseppe Mazzini, derrotado por monarquistas e conservadores austríacos na malsucedida Revolução de 1848.


Imagem: Pensar a História



Sem subir aos palcos desde que a arte dos teatros fora banida da Itália por determinação dos ocupantes austríacos e sofrendo perseguição política em sua terra natal, a bailarina decidiu se mudar para o Brasil, onde desembarcou com sua família em 1849.

Estabelecida no Rio de Janeiro, Marietta recebeu convite para se apresentar com sua companhia no Teatro São Pedro de Alcântara. Seu talento encantaria imediatamente a elite carioca, que passou a lotar os assentos da plateia para vê-la dançar.


Imagem: Pensar a História


A "lua de mel", entretanto, duraria pouco tempo. Os hábitos "transgressores" da bailarina logo se chocariam com os valores da sociedade conservadora e escravocrata do Império Brasileiro. Marietta Baderna gostava de festas e, não raramente, saía sozinha à noite para frequentar os bailes populares. Namorava, bebia e dançava madrugadas adentro. Marietta Baderna gostava de festas e, não raramente, saía sozinha à noite para frequentar os bailes populares. Namorava, bebia e dançava madrugadas adentro.

Marietta passou a incorporar elementos dos ritmos africanos - sobretudo os passos do lundu - em suas apresentações nos palcos cariocas. E os populares com quem fazia amizade — trabalhadores braçais, negros escravizados e alforriados, vendedores ambulantes — passaram a frequentar as sessões abertas do Teatro São Pedro para prestigiar a bailarina, desenvolvendo uma forte identificação com suas apresentações.


Imagem: Pensar a História 


Quando Marietta Baderna entrava em cena, seus admiradores — ditos baderneiros — faziam uma algazarra. Aplaudiam, batiam os pés no chão, assobiavam, gritavam o seu nome — chocando a aristocracia na plateia, acostumada à reverência silenciosa dos espetáculos artísticos. As manifestações efusivas e a presença de negros, trabalhadores braçais, pessoas do povo na plateia — normalmente reservada ao usufruto da elite carioca — logo começaram a incomodar a sociedade racista e elitista do Império.

Aos poucos, os convites para a companhia de dança de Marietta Baderna começaram a escassear. Boicotada, a bailarina somente era escalada para papéis secundários no Teatro São Pedro. Seu sobrenome passou gradualmente a ser associado à bagunça, desordem e libertinagem.

Quatro anos antes de seu falecimento, ocorrido em 3 de janeiro de 1892, o dicionário de Antônio Joaquim de Macedo Soares se tornaria o primeiro a registrar o sobrenome da "bailarina do povo": baderna se tornara, então, sinônimo de "súcia dançante".


Imagem: Pensar a História

 

Por Pensar a História.




MUAMMAR GADDAFI, O HOMEM QUE QUIS UNIFICAR OS POVOS

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