A prática, é em si, uma das
únicas formas de mensurarmos os atributos atinentes ao ser humano. De fato,
quando nos predispomos a algo, não sabemos se o que desejamos ou como agimos
representa a vontade essencial; uma qualidade inerente ao ser. A ação se dissocia
da afirmação inerte, pela sua solidez.
Genuinamente, as pessoas boas
se caracterizam pelas suas atividades consolidadas a terceiros e não só pelas
palavras emanadas sem a atuação necessária para, o que hora fora teórico, tornar-se
concreto e benéfico.
Em “Ética a Nicômaco”, páginas
45 e 46 [alíneas 20, 25, 30, 1105 b, 5, 10, 15], Aristóteles discorre sobre o
justo e o temperante como personagens distintos dos atuantes de forma gerida e
com conhecimento prévio, assim como os gramáticos ou músicos:
(20) “[...] Com efeito,
se os homens praticam atos justos e temperantes, é que já têm essas virtudes,
do mesmo modo que, se fazem coisas em conformidade com as leis da gramática e da
música, é que já são gramáticos e músicos [...]”
Aristóteles.
Os justos e temperantes,
por si só agem conforme a virtude que lhe fora atribuída ao nascer; não
necessitando de uma terceira noção para que as suas ações se validem. Ora, mas
alguém que pratica algo pertinente à gramática não pode se beneficiar da ajuda
de um terceiro para a completude do seu intento? Sim. Verdadeiramente, pode, mas
o gramático só será um gramático quando possuir os conhecimentos que só o
próprio gramático possui e são-lhe inerentes por praticá-los, não por serem
atributos de sua essência. Acontece que há uma semelhança entre a virtude e os
artifícios usados porque a temperança e a justeza têm seu mérito em si próprios,
satisfazendo-se com o caráter contido nelas. As artes não se completam, por não
terem mérito próprio em si; derivam de uma autocorreção para execução. Ao
contrário da virtude, esta vista como qualidade moral concernente ao íntimo do
ser; que diz-se do justo e o temperante.
(10) “[...] Está certo,
então, dizer que é pela prática de atos justos que o homem se torna justo, e é
pela prática de atos temperantes, que o homem se torna temperante, e sem essa
prática ninguém teria nem sequer a possibilidade de tornar-se bom [...]”
Aristóteles.
Podemos observar, como
dito anteriormente, que a teoria não o torna bom sem a prática, mas entendedor
da ação, assim como a maioria das pessoas que assim procedem. O conhecimento
não o torna necessariamente virtuoso em justeza e temperança, porém arguto em
suas ações exercidas. A virtude, então, advinda do justo e temperante, compete
não só à prática como à qualidade inerente à essência do homem.